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Arigatoo gozaimasu Murakami San!

Tenho repetido em alguns encontros que o Tempo é muitas vezes o maior inimigo do Motostory. Ele passa de forma implacável e leva consigo gente preciosa. Cada vez que um dos nossos parte, fica sempre aquela sensação de que poderíamos ter feito mais. Ele passa e nos deixa com a sensação de estarmos atrasados, devendo.

 

Masuo Murakami com João Figueiredo, então presidente da República, em um dos muitos encontros na Granja do Torto regados a montaria e churrasco de “Salsichão” – Foto Acervo Murakami / Motostory

Recebi a notícia da morte de Masuo Murakami através de um post do amigo e jornalista Roberto Agresti. Não foi exatamente uma surpresa para mim o seu falecimento, já que sua saúde demandava cuidados especiais há um bom tempo, mas foi certamente uma enorme perda para todos nós. Daquelas que leva consigo um pedaço importante da nossa história.

 

Yasutomo Kato e sua esposa Tomiho, com Soichiro Honda e sua esposa Sachi Honda, em almoço na fazenda Tozan em Campinas em 1974, na única visita de Honda ao Brasil. Yasutomo Kato e Soichiro Honda foram amigos na juventude, em Hamamatsu, Japão. Kato migrou para o Brasil mas manteve a amizade com Honda por toda a vida. Quando este decidiu implantar sua subsidiária no Brasil, ligou para o amigo pedindo ajuda. Além de participar ativamente no início da operação brasileira, Kato envolveu seu genro Masuo Murakami no processo. Justo ele, que tinha sido colega de caserna de Ernesto Geisel e João Figueiredo, justamente os dois últimos Generais Presidentes, e também colega de faculdade de Delfim Neto e Fernando Henrique Cardoso. Foto Acervo Murakami / Motostory

 

Para a arrasadora maioria dos motociclistas brasileiros, o Sr. Murakami, ou Mura, carinhosamente chamado por amigos e colegas, é um completo desconhecido. Mas, se hoje o Brasil conta com um parque circulante com mais de 25 milhões de motocicletas, em sua grande maioria (22 milhões) da marca Honda, então esta grande maioria de motociclistas deve muito a este homem.

 

Yasutomo Kato, Soichiro Honda, Sachi Honda, Tomiho Kato, Yoko Iida e Ossamo Ida em visita a Brasilia em 1974 – Foto Acervo Murakami / Motostory

 

Por anos, desde que comecei a participar ativamente do mercado de motocicletas, sempre me perguntei: Porque a Honda é, no Brasil, tão superior à Yamaha? O que teria acontecido para que chegassem a tamanha diferença, se as duas chegaram ao Brasil praticamente na mesma época? A Yamaha instalou sua subsidiária em São Paulo em 1970, mesma cidade escolhida pela Honda para se instalar em 1972. A primeira construiria sua fabrica em Guarulhos, SP, para começar a produção da RD 50 em 1974, enquanto a outra, que já havia adquirido também um terreno em Sumaré, SP para a construção de sua planta no Brasil, decide alterar os planos, atrasar o início da construção da fabrica e partir para Manaus. Manaus? Parecia uma loucura naquele momento uma mudança como esta, ou seria “o pulo do gato”? Porque? (Nota: A Honda iniciou a produção de sua CG 125 apenas em 1976, dois anos depois da Yamaha.)

Yasutomo Kato (esq.) visita o escritório da Honda em São Paulo, em 1972, juntamente com o primeiro presidente da Companhia, Ossamo Iida (dir.) Foto Acervo Murakami / Motostory

 

Quando o projeto Motostory começou a ser um trabalho diário para mim, ainda em 2012, esta era uma das perguntas que precisava ser respondida. Porque a Honda decidiu seguir para Manaus na década de 70? Se era a decisão correta para a instalação das fabricas nacionais de motocicletas, o que o tempo tratou de mostrar que era, porque a Yamaha não foi também? Alguém na empresa sabia de algo.

 

Tomiho Kato, Soichiro Honda e a esposa Sachi Honda, com Mitika Kato Murakami, em visita Fóz do Iguaçu em 1974 – Foto Acervo Murakami / Motostory

 

Minha vida no motociclismo praticamente nasceu junto com a história destas duas empresas no Brasil, ainda nos aos 70. Desde muito cedo, especialmente quando passei a frequentar a redação das diversas revistas por onde passei, sempre escutava falar do “Tio Mura”. Um dia pude conhece-lo pessoalmente, foi em 1986. Ele já era então o presidente da ABRACICLO, entidade que comandou por longos 12 anos. (Para saber mais sobre a Abraciclo, vá em https://motostory.com.br/pt/abraciclo-40-anos-uma-historia-de-superacao-parte-1/)

 

Procurando entender os fatores que provocaram esta polaridade tão grande a favor da Honda, encontrei com as amigas Virginia e Chaquê Ganatchian, ambas ex-executivas da empresa. Elas me levaram até Kasuo Nozawa e depois até o apartamento do casal Mitika e Masuo Murakami. Foi então que algumas respostas começaram a aparecer.

1974 – Soichiro Honda discursa para sua pequena equipe nas então tímidas instalações da Honda em São Paulo, onde hoje existe o imponente prédio administrativo da empresa atrás do Shopping Morumbi, em São Paulo. O primeiro, de jaqueta cinza, é Milton Benite, recém contratado da empresa. – Foto Acervo Murakami / Motostory

 

Assista o vídeo com o bate papo informal e inédito entre o casal Murakami e Carlãozinho Coachman em 2013, no apartamento deles em São Paulo. Também estavam conosco naquele dia Ricardo Kazumi, o MI, sobrinho deles, motociclista, preparador e grande amigo, e as irmãs Virginia e Chaquê Ganatchian, a quem sempre serei grato pelo privilégio daquela tarde. Ao amigo Flavio Grana, mais uma vez obrigado pelas imagens.

 

Romeu Tuma e Masuo Murakami foram bons amigos. – Foto Acervo Murakami / Motostory

 

Obs.1: A edição deste vídeo, de aproximadamente 10 minutos, foi feita à pedido da Abraciclo em 2016, quando da comemoração dos 40 anos da entidade. Uma parte ainda mais reduzida foi exibida no evento que homenageou Murakami pelos seus 12 anos à frente da entidade. O integral da entrevista e muito mais material postaremos aos poucos para contarmos a história deste verdadeiro agente transformador do mercado brasileiro de motocicletas.

 

Fernando Henrique Cardoso, colega de faculdade de Murakami, com Mario Covas ao fundo. Foto Acervo Murakami / Motostory

 

Obs.2: Durante a gravação, muitas falas de Masuo Murakami e sua esposa Mitika Kato Murakami chamaram a atenção. Mitika falando sobre a amizade do pai dela Yasutomo Kato com Soichiro Honda, desde a juventude em Hamamatsu, e a relação que mantiveram a vida toda. Em outro ponto, Murakami disse “ter dado muita sorte na vida”, para em seguida dizer que foi o primeiro da turma da cavalaria do exercito, e que isto o levou a se tornar amigo de João Batista de Oliveira Figueiredo, então Coronel e mais tarde General e Presidente da República. Em outro ainda, por ter cursado a faculdade de economia na USP quando Delfim Neto e Fernando Henrique Cardoso eram assistentes. Coisa de gente sortuda.

 

Arigatoo gozaimasu Murakami San!

 

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