Achei o fotógrafo: Flávio Freire

Final de 2018: Dizer que eu achei o fotógrafo é um pouco forçado. Mais certo seria dizer que ele me achou. “Calãozinho? Aqui quem fala é Flavio Freire. Fui muito amigo do seu pai e queria te mandar umas coisinhas.” E as fotos começaram a chegar. Não foram as de moto que chegaram primeiro não, mas de uma festa de aniversário, com meus pais ainda casados e minha irmã, a Flavia, ainda pequena. Não sei porque mas eu não estava neste lote de fotos. Fiquei emocionado de ver os pais jovens, 30 e poucos anos talvez, junto com a “baixinha.”.

Ano novo, retorno ao escritório e mais um contato do Flavio. “Achei mais umas fotos que você vai gostar. Estou mandando.” Bingo! Achei o fotógrafo de algumas das mais belas fotos que tenho nos guardados do pai. Ampliações maravilhosas de fotos Preto e Branco, perfeitas na composição, no foco, no movimento… mas que eu, que me preocupo muito com os créditos das imagens que recebo e possuo pelo respeito que tenho ao profissional fotógrafo, desconhecia completamente o autor destas.

Flavio Freire tem hoje 90 anos e ainda mora na Granja Vianna, região da Grande São Paulo, ali na beira da Raposo Tavares. Ele não apenas me mandou as fotos que eu já tinha, como também uma grande quantidade de fotos ainda inéditas daqueles mesmos dias. Os primeiros anos de meu pai e seus amigos com suas Montesa Cota 247 (e outras motinhos também), em meados dos anos 70.

Além das maravilhosas composições fotográficas, as imagens revelam um momento sublime na vida de todos nós: o aprendizado. E nos deixam uma mensagem clara: A alegria de aprender!

Nesta galeria de fotos incríveis, que me levaram de volta aos meus 10 e poucos anos de vida, vemos Carlão Coachman, Sinésio Franco Fernandes (Que anos mais tarde foi o primeiro revendedor Ibramoto / Montesa do Brasil, com sua loja em Campinas, SP.), os irmãos (e primos do meu pai) Luiz Antonio e João Roberto Escobar, Flavio Freire Jr (Vuca) que é o filho do fotógrafo, um vizinho deles lá na Granja chamado Fabio Canteiro, e Julio Camargo Carone. São fotos tiradas em diferentes finais de semana e as datas exatas de cada uma delas não temos. Mas, o que elas mostram com clareza é a magia dos primeiros anos de trilhas do pai e da turma. O cara bom mesmo de moto, já naquele tempo, e que aparece nas fotos era um tal de Ronnie Hornett Kopenhagen (sim, dos chocolates) e que na época era o dono do Rolls Royce que hoje se encontra na coleção do nosso Tri-Campeão de Fórmula 1 Nelson Piquet. Ronnie foi uma espécie de mentor e irmão mais velho para mim. E o cara andava muito de moto.

Também aparecem ali os primeiros movimentos do Trial no Brasil… inspirados no livro do mago do Trial Mundial daqueles tempos, o britânico Sammy Miller, livro que tenho até hoje na biblioteca do Motostory. Meu pai, ávido por conhecimento, ficou sabendo do livro nem sei como e encomendou através da livraria BUX, que ficava ali na Av. Faria Lima, em São Paulo, e importava livros de arte em geral. O dono da livraria se chamava Paulo e ele fumava cachimbo sem parar. A livraria tinha um perfume delicioso. Claro que ele e o pai ficaram amigos fácil e em muitas sexta-feiras o telefone do pai tocava no consultório: “Carlão, passa aqui que seus livros/revistas chegaram… e vem com tempo para um uisquezinho.” Eu ia junto e ficava lá, foleando livros maravilhosos. Foi a Bux também uma das primeiras a importar revistas de carro e moto encomendadas para o pai ler: Motorcyclist, Cycle World, Road and Track, e Car, vinham dos EUA, Motociclismo e Motocross da Italia, Moto Verté da França, mais tarde também Dirt Bike e Motocross dos EUA.

Obrigado Flavio Freire pela grata surpresa! Coisas de Motostory, ora surpreendemos, ora somos surpreendidos!