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Lucílio Baumer: da “Jararaca” ao Mundial de Motovelocidade

Por ICGP Brasil / LetraNova Comunicação / Luiz Alberto Pandini

Uma moto construída com peças antigas foi a primeira da longa carreira de Lucílio Baumer. Duas vezes campeão brasileiro e com participações em provas internacionais, Baumer será um dos pilotos homenageados em Goiânia, durante a última etapa do ICGP.

 

Baumer no pré-mundial 250 em Brasília, 1986. Na Kobas 4, o espanhol Juan Garriga (Arquivo Lucílio Baumer / Motostory)

Mais de vinte anos nas pistas, dois títulos nacionais, a participação em dois GPs do Campeonato Mundial e em uma edição da 100 Milhas de Daytona. Aos 69 anos, o catarinense Lucílio Baumer Filho resume em uma frase a importância de sua carreira no motociclismo: “Foi um período maravilhoso da minha vida”. Baumer será um dos pilotos brasileiros a serem homenageados durante a etapa final do ICGP, que acontecerá no dia 23 de outubro em Goiânia. Terá ainda o prazer extra de ver uma de suas motos – uma Yamaha TZ 350 – em plena ação durante as provas.

Lucílio Baumer na década de 1980. (Arquivo Lucílio Baumer / Motostory)

Lucílio Baumer Filho começou a correr em 1963, aos 16 anos, em uma pista de terra existente na sua cidade natal, Joinville. Seu pai, Lucílio Baumer, fora campeão nacional com uma AJS 500 em 1952 e construiu para o filho uma moto, apelidada de “Jararaca” à falta de melhor denominação: “O quadro era de uma Monark 1954, o motor de 150 cm³ era de uma CZ e a suspensão dianteira foi aproveitada de uma Puch. Foi com essa moto que ganhei minha primeira corrida”. Poucos anos depois, Baumer passou a correr com Lambretta. Mas o dinheiro era pouco e ele não se adaptou às máquinas. Preferiu se afastar e voltou às motocicletas em 1972, com uma Honda CB 350 da categoria Esporte. Chamou a atenção ao derrotar as então imbatíveis Yamaha RD 350 em uma corrida em Tarumã. No ano seguinte, um tombo em Interlagos custou um ano de convalescença.

Lucílio Baumer em Interlagos aos reencontrar sua TZ restaurada por Roberto Keller (acervo Roberto Keller / ICGP Brasil)

Baumer voltou às pistas em 1975 e iniciou a fase mais vitoriosa de sua carreira. Conquistou seu primeiro título brasileiro em 1978, na categoria Esporte, com uma Yamaha RD 350 equipada com motor da TR3. Isso incentivou-o a passar para a categoria Especial, com uma TZ 350. O primeiro ano, 1979, foi “horrível”, na definição do próprio piloto. Em 1980, foi recompensado com o título brasileiro. E, em 1981, aproveitou a realização do GP da Argentina para realizar o sonho de disputar uma etapa válida pelo Campeonato Mundial. Terminou em 14º lugar (largaram 32 pilotos) e no final do ano terminou em terceiro lugar no Campeonato Latino-Americano. Voltou a se inscrever no GP da Argentina em 1982, mas não conseguiu largar por quebra da moto. Baumer também tem no currículo uma participação na 100 Milhas de Daytona, em 1984, com uma TZ 250. Terminou em 21º lugar numa corrida com 80 competidores, sendo o melhor classificado entre os quatro brasileiros inscritos.

Com a moto 29 no GP da Argentina de 1981. O 28 é o brasileiro Cláudio Girotto. (Arquivo Lucílio Baumer / Motostory)

Nessa época, Baumer havia decidido substituir sua TZ 350 por uma TZ 250. A categoria 350 já não existia mais no Mundial e as motos que andavam no Brasil começavam a ficar desgastadas. “Andar em uma 250 nova era melhor do que em uma 350 antiga. Era menos potente, mas permitia uma pilotagem mais ‘redonda’ e havia mais facilidade para conseguir peças para ela”, conta. Com essa moto, o catarinense conseguiu uma vitória no Uruguai, no final de 1983, de maneira inacreditável.

Com a Yamaha TZ 250 em 1984. (Arquivo Lucílio Baumer / Motostory)

“A corrida deveria acontecer no autódromo de El Pinar, em Montevidéu. Nos treinos, consegui um bom acerto e virei um tempo próximo ao recorde da pista, que era do Carlos Lavado com uma 350. Só que os organizadores perceberam que o público ia ser pequeno e transferiram a corrida para um circuito de rua”, lembra. “Foi uma loucura. Corremos entre postes, meios-fios e a sujeira da beira-mar. Mas tinha tanta gente que eu pilotava a moto e ouvia o público ovacionar! Tive a impressão de que toda a população de Montevidéu havia ido assistir a corrida. Ganhei com grande vantagem porque a concorrência era fraca, mas é uma prova da qual me lembro com grande prazer.”

Baumer (Honda CBR 900) em Londrina, em 1994. (Arquivo Lucílio Baumer / Motostory)

No final de 1986, Baumer decidiu parar. “Eu ainda andava rápido, mas já não era tão natural quanto antes. Fiz minha última corrida no Rio de Janeiro e vendi quase todo meu equipamento para um piloto argentino.” Deixou de correr, mas não se afastou do esporte. Montou uma equipe de motocross e, já nos anos 2000, sua equipe, a Baumer Racing, disputou o Campeonato Sul-Americano de Fórmula 3 com seu filho Lucílio Baumer Neto, o Luc. Nas décadas de 1990 e 2000, fez uma ou outra corrida com motos esporte, apenas para matar as saudades.

Lucílio Baumer e a Yamaha TZ 350: campeões brasileiros em 1980. (Arquivo Lucílio Baumer / Motostory)

Há alguns anos, Baumer assessorou Bob Keller na restauração da Yamaha TZ 350 com a qual foi campeão em 1980. E aprovou plenamente o resultado final: “Foi um trabalho minucioso, detalhista, capricho 100%”, elogia. Ao guidão da TZ, Lucílio Baumer Filho vai participar da “parade lap” durante a última etapa do ICGP, dia 23 de outubro em Goiânia.

A TZ de Lucílio Baumer restaurada por Roberto Keller (foto acervo Roberto Keller / ICGP Brasil)

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