Loading

Celeste, e a arte do encontro

Nem toda menina nasce pra ser bailarina… Essa é uma frase que tenho visto em posts nas redes sociais junto à imagem de uma menina intrépida e determinada, montada em uma moto e arrasando nas pistas, lado a lado de grandes pilotos homens…

Maria Celeste Sarachú: Bailarina? Foto: Acervo Pessoal
Maria Celeste Sarachú: Bailarina? Foto: Acervo Pessoal

Meu nome é Maria Celeste Sarachú, e meu sobrenome bem poderia levar a pensar que eu fui uma dessas meninas . Sou filha de Jacinto Sarachú, um ícone do motociclismo uruguaio-brasileiro.

A pequena Maria Celeste nos braços do pai Sarachú. Foto: Acervo Pessoal
A pequena Maria Celeste nos braços do pai Sarachú. Foto: Acervo Pessoal

Nasci em Montevidéu, Uruguai, e vim ao Brasil pela primeira vez aos 13 anos, de férias pra visitar meu pai, que morava no Brasil, desde o inicio dos anos 70. Na época ele tinha uma oficina de motos na Rua Costa Carvalho, em Pinheiros, e lá tive a oportunidade de conhecer muitas dessas figuras que fazem a historia do nosso esporte. A oficina era ponto de encontro de figuras lendárias como  o Jacaré, Três Rios,  Paulinho Castroviejo, Salvatore Balestrieiri, Ramon Macaya, Vail Paschoalin, os irmãos Feltrin, Roque Colman, Cajurú, Denísio Casarini,  Kurt Feichtenberger, Marcos Tognocchi, Claudio Girotto, Ricardo Arena, ..ufaa …a lista é interminável…

Maria Celeste Sarachú em meio aos troféus do pai. Foto: Acervo Pessoal
Maria Celeste Sarachú em meio aos troféus do pai. Foto: Acervo Pessoal

Lá, eu ouvi muitas histórias e anedotas, e testemunhei intermináveis papos que muitas vezes entravam pela madrugada, enquanto meu pai cuidava com uma precisão quase cirúrgica do motor daquela máquina que no dia seguinte iria pra pista….

Um ser humano talentoso, disciplinado e dedicado, mas humilde, simples, muito amável e cordial….

A lembrança mais antiga que tenho da oficina da Costa Carvalho é o afinco e o cuidado dele na preparação e a fabricação do escape de uma Mobilette, um ciclomotor com a qual um garotinho de apenas 7 anos , chamado Alex Barros, ganharia sua primeira corrida e seria o melhor da categoria, dando os primeiros passos de uma trajetória esportiva impar.

Alex Barros, Jacinto Sarachú e a Mobilette. Foto: Acervo Alex Barros / Motostory
Alex Barros, Jacinto Sarachú e a Mobilette. Foto: Acervo Alex Barros / Motostory – 1978

Outra que eu acompanhei de perto foi a preparação de uma Minarelli, uma cinquentinha que ele conseguiu no Uruguai para o Netinho correr, com apenas 13 anos…

Maria Celeste e o pai Jacinto Sarachú, com o boné de Netinho da década de 80, que agora pertence ao Motostory. Foto Acervo pessoal
Maria Celeste e o pai Jacinto Sarachú, com o boné de Netinho da década de 80, que agora pertence ao Motostory. Foto Acervo pessoal

 

Maria Celeste Sarachú e Antonio Jorge Neto (Netinho) e noite de TZudos. Foto: Sampafotos
Maria Celeste Sarachú e Antonio Jorge Neto (Netinho) e noite de TZudos. Foto: Sampafotos / 06/09/2014

E outra lenda viva do motociclismo, que passava horas na oficina da Costa Carvalho era o Mestre Milton “Pressão” Benite, e juntos faziam a 4 mãos os escapamentos da moto do Tucano…O resultado?…Aquele ronco maravilhoso, bruto e harmonioso…Coisa de artistas e, acima de tudo,  de “hermanos”…

Um dia, Sarachú fabricou um escapamento para a 750 cc com a qual correu a Taça Centauro, um 4×1, com aqueles roncadores barulhentos… Tempos depois apareceu por lá o Antonio Pinheiro, chegou na porta da oficina e apontou para 750cc e disse: Sarachú, quero um escape igual a esse para a minha moto… Uns dias depois um rapaz entrou na oficina e encomendou um escape para uma moto de passeio, e depois chegou o Dudu, encarregado da parte técnica da Moto Jumbo Pão de Açúcar e encomendou outro para uma CG 125… E depois mais 3… 6… 10… E assim nascia a Sarachú Escapes Esportivos, que mais tarde mudou para a R. Eugênio de Medeiros, no Butantã…

Essa era a vida dele e aquele era o lugar onde eu passava minhas férias. Um universo masculino de cheiros e sons particulares, com muito braaaaaaaaaappppp e paixão nos olhos. Tudo eram corridas contra o tempo, nos boxes de Interlagos para fazer as máquinas voarem ou na oficina. Anos depois meu pai retornou para sua terra natal, mas eu fiquei no Brasil… casei, tive filhos e me naturalizei brasileira.

No final de 2014, convidei meu pai para passar as férias comigo, e tive a idéia de fazer uma festinha surpresa com velhos amigos daquela época. Comecei a procurar nas redes os amigos de antigamente, contando com eles pra fazer a surpresa. Assim foi que encontrei Carlãozinho Coachman. Um destes encontros que a vida nos proporciona, quando ela resolve nos surpreender com pequenos milagres que se tornam encontros mágicos.

Carlão (como eu gosto de chamar) me falou do projeto Motostory. Um projeto pensado ainda com seu pai em vida, o grande Carlão Coachman, e que ele, como forma de homenagem póstuma estava começando a tornar realidade…

Raras vezes a gente vê tanta energia, paixão e capacidade de realização numa pessoa só… Eram os primeiros passos públicos do Motostory – A história da Motocicleta no Brasil… Eu, querendo fazer uma singela homenagem ao meu pai, depois de 15 anos fora do Brasil,  e Carlãozinho, com um projeto grandioso nas mãos, e com aquela paixão nos olhos que eu reconhecia…

Sarachú e carlãozinho em noite de Daytona 83 346. Foto: Haroldo Nogueira / Motostory
Sarachú e Carlãozinho em noite de Daytona 83 346. Foto: Haroldo Nogueira / Motostory / 04/02/2015

A vida é a arte do encontro, diz Vinicius de Morais… E então,  aceitei o desafio de apoiar a realização do que seria o 1º Encontro Motostory, que renderia homenagem, pela sua façanha histórica, à equipe de Netinho em Daytona em 1983, da qual Jacinto Sarachú fez parte. E começamos a divulgar o 1º Encontro como parte de um projeto bem maior, que é resgatar a história do motociclismo.

Sarachú, Netinho e João Mendes no evento que Maria Celeste ajudou a construir. Foto: Haroldo Nogueira / Motostory
Sarachú, Netinho e João Mendes no evento que Maria Celeste ajudou a construir. Foto: Haroldo Nogueira / Motostory  04/02/2015

Nessa caminhada, tive a oportunidade de reencontrar velhos conhecidos, e de conhecer parceiros maravilhosos que só vieram a somar: meu querido Marcelo Abelha, que passava sábados inteiros na Sarachú Escapes (de passagem sempre para a pista de cross chamada Morro da Lua)..kkk…

Meu pai apelidou ele de Bizu Bizu e ficou como apelido carinhoso desse “parceirasso” que se juntou a nós incondicionalmente… José Luis Gonçalves e João Antônio Simões, o da Light, que desde o início enriqueceram os nossos murais com tanta informação e fotos valiosíssimas (minhas wikis do motociclismo, amo vcs!!)… O resto, quem não esteve presente naquele 04 de fevereiro de 2015, dia do 1º Encontro Motostory, pôde acompanhar pelas redes sociais e outras mídias, por fotos e vídeos, como foi o primeiro encontro da série “Os barbudos também choram!”…rsrsr…MÁGICO!

Não fui uma dessas intrépidas meninas que não nasceram pra fazer balé, mas com certeza, naquelas férias da minha infância e adolescência, eu vi e vivi valores que carreguei pela vida afora: a paixão, o talento, a dedicação, a capacidade de superação, a humildade, a generosidade e o reconhecimento, que traduzem nossa “humanessência”. Por isso eu recebo com muito orgulho o título de Embaixadora Motostory.  É uma honra e uma grande felicidade poder trabalhar ao seu lado, meu querido Carlão! Gratidão imensa! Conte incondicionalmente comigo!!

Carlãozinho, Maria Celeste Sarachú, Wilson Yasuda e Marco Greco em noite de Motostory. Foto: Haroldo Nogueira / Motostory
Carlãozinho, Maria Celeste Sarachú, Wilson Yasuda e Marco Greco. Foto: Haroldo Nogueira / Motostory / 04/02/2015

E peço licença ao poeta: A vida é a arte do encontro e do reencontro! Por isso, SOMOS TODOS MOTOSTORY!!

Leave a Reply