Florianópolis – Motostory Brasil https://d87.281.myftpupload.com A História da Motocicleta no Brasil Mon, 02 Oct 2017 19:15:24 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.4.3 https://d87.281.myftpupload.com/wp-content/uploads/2016/09/cropped-MOTOSTORY_LOGO_OLDIE2_MS2-32x32.jpg Florianópolis – Motostory Brasil https://d87.281.myftpupload.com 32 32 Uma Viagem de Motocicleta ATRAVÉS DOS ANDES – parte 3 https://d87.281.myftpupload.com/pt/uma-viagem-de-motocicleta-atraves-dos-andes-parte-3/ https://d87.281.myftpupload.com/pt/uma-viagem-de-motocicleta-atraves-dos-andes-parte-3/#respond Thu, 31 Aug 2017 15:00:12 +0000 https://motostory.com.br/?p=1884 Nota do editor de Motostory: Segue a terceira parte da reportagem originalmente publicada na revista Motociclismo número 7, de março/abril de 1950. Trata de mais um episódio da epopeia dos amigos Ayres Nogueira, Dr. Bernardo Ciambelli, Dr. Ciro P. Oliveira e José Lamoglia Netto, que saíram de São Paulo em direção ao Pacífico. Neste episódio os “Bandeirantes Modernos chegam o Rio Grande do Sul. Está em nossas mãos graças à generosidade da família Edgard Soares.

3ª de uma série de artigos, por Ayres Nogueira

Reprodução da Capa da Edição numero 7 da Revista Motociclismo publicada em Março / Abril de 1950. Na foto de capa vê-se Edward Pacheco e sua AJS, Eloi Golgliano (editor da revista) e o mecânico Fúlvio Crocce

No artigo anterior, a nossa narrativa interrompeu-se na  romântica e original cidade de Florianópolis, Capital do Estado de Santa Catarina, sendo que o comando da caravana estava sob o comando do Sr. Dr. Bernardo Ciambelli.

Depois de uma noite de repouso na referida cidade de Florianópolis, aprontamo-nos para fazer a entrega das mensagens aos Srs. Governador do Estado, Prefeito da Capital e Presidente da Câmara Municipal.

Fomos atendidos pelo Sr. Secretário de Governo, pois que se encontrava ausente S. Excia. O Governador, tendo o Sr. Secretário consignado em nosso “Diário” as seguintes impressões:

“Registro a passagem da “Caravana da Boa Vizinhança” composta dos Srs. Aires Nogueira – Dr. Bernardo Ciambelli – Dr. Ciro P. Oliveira – e José Lamoglia Neto, os quais percorrem o Brasil em direção ao Chile, usando, como veículo, motocicletas, o que lhes dá um caráter de arrojado bandeirismo, que não posso deixar de admirar muito grandemente.”

Florianópolis, 27-10-1948

  1. Francisco Barreiro Filho, Secretário de Governo.

O Sr. Prefeito Municipal consignou o seguinte:

“Apraz-me registrar a passagem, em Florianópolis, dos Srs. Aires Nogueira – Dr. Bernardo Ciambelli – Dr. Ciro P. Oliveira – e José Lamoglia Neto, bravos componentes da “Caravana da Boa Vizinhança” e lídimos representantes do ânimo e da audácia paulistanas, Bandeirantes da nova geração.

Florianópolis, 20-10-1949

  1. Valentim de Carvalho – Prefeito Municipal

No dia 28-10, nossa “Caravana”, cujo comando passou a ficar sob a responsabilidade do Dr. CIRO P.OLIVEIRA, às 5 da manhã deixava a maravilhosa cidade de Florianópolis rumo a Porto Alegre. A estrada bastante acidentada e muito perigosa devido às inúmeras curvas e leito estreito, não permitia grande velocidade.

O tempo estava ameaçador, prometendo chuvas violentas: contudo, tínhamos informações de que a estrada não era escorregadia quando molhada, o que não acontece com a estrada vermelha. Às 10 horas mais ou menos, o tempo melhorou e tivemos um belíssimo sol; paramos em uma pequena cidade, cujo nome não me recordo, e aí fizemos um pequeno lanche. Tomadas as informações necessárias, partimos rumo ao litoral; a 80 quilômetros mais ou menos, diante dessa cidade, tivemos uma surpresa bastante desagradável; encontramos uma ponte semi-destruída. É comum, no Estado de Santa Catarina, construírem pontes apoiadas em colossais toras de madeira, e cuja largura permite apenas a passagem de um automóvel, indo a extensão às vezes a mais de 15 metros. Sobre essas toras, que chegam a ter entre 4 a 6 metros de diâmetro, são pregadas as tábuas de 5 centímetros de espessura mais ou menos, as quais se firmam em um pequeno “chanfrado” feito no dorso superior da tora.

Ao chegarmos a esta ponte, de início pareceu-nos que ai terminava a viagem ou nos atrasaríamos sobremaneira, pois que a mesma tinha cerca de 8 metros a descobertos, isto é, sem as tábuas, que teriam sido arrancadas por uma formidável enchente do rio. A extensão total da ponte era de 14 metros, e estava uns 10 acima do nível das águas que teriam no momento uma profundidade de 2 metros. Assim ficou evidente que não poderíamos atravessar pelo leito do rio, ainda que encontrássemos, para cima ou para baixo da ponte, margem sem barranco. A única chance seria tentar a travessia no dorso da tora equilibrando-se no pequeno chanfrado que não tinha mais do que 30 centímetros de largura.

Fotos apanhadas na praia de Aranganguá, Torres. Em baixo uma barcaça desembarque norte-americana em completo abandono, visitada pelos três (sic: quatro) bandeirantes.

Nessas condições, procedemos a uma votação para decidir o seguinte: Voltar atrás até a próxima cidade (80 quilômetros) para indagar de um outro caminho ou esperar ali o concerto do ponte, ou, então, arriscar a passagem assim mesmo. A votação deu como resultado 2 votos pela passagem e 2 votos pela volta à cidade, cada um dos votantes fazendo a defesa do seu voto. Contudo os pontos de vista não chegaram a um acordo e uma hora já tinha se passado sem que houvesse uma decisão. Nessas condições, como já havíamos resolvido anteriormente, caberia a sorte resolver a questão, sendo convidado então o comandante Dr. Ciro para jogar uma moeda para cima (cara ou coroa). E a sorte, essa nossa infatigável companheira, que nos acompanhou, beneficiando-nos durante toda a viagem, decidiu que deveríamos atravessar. Restava agora determinar quem seria o primeiro, o segundo, o terceiro e o quarto a empreender tão arriscada travessia, uma vez que muito embora a tora tivesse grande largura, o chanfrado, como já disse, não ia além de 30 centímetros e a distância a percorrer seria de 8 metros, o bastante para um belo mergulho de 10 metros de altura.

Quatro pedaços de papel devidamente numerados, decidiram a ordem da travessia. José Lamoglia Neto foi o pesado que tirou o numero 1, Dr. Ciro P. Oliveira o 2, Aires Nogueira 3, e Dr. Bernardo Ciambelli 4.

Na iminência de um provável “mergulho”, seria aconselhável que nos desfizéssemos das roupas, botas, para a travessia. Estudamos todos os ângulos perigosos, e assim ficou combinada uma velocidade de 20 quilômetros, pois em caso de desiquilíbrio, o motociclista não seria projetado no barranco em frente. Cair, sim, mas na água é melhor… Estudamos também a maneira como cair, pois que se a maquina nos caísse em cima, mesmo dentro d’água, seria bem… desagradável. A maquina poderia cair no lado que quisesse, entretanto o bandeirante teria que escolher o lado oposto para evitar que a maquina lhe caísse em cima.

O numero 1, José L. Neto se pôs a caminho. A “torcida” era grande, olhares apreensivos acompanhavam “El Valente” que se afastava uns 200 metros da ponte, para em seguida dela se aproximar e empreender tão curta e arriscada travessia.

Foram momentos emocionantes e de grande tensão nervosa. Depois todos, felizmente, havendo demostrado sangue frio absoluto, controle perfeito e determinação que animam constantemente o espírito altamente esportivo e aventureiro da gente de Piratininga, do outro lado já, todos olharam com desprezo aquela “pontinha” que nos tinha roubado 3 valiosas horas de viagem, e que nos tinha transformado em “Índios Brancos” sobre motocicletas em pleno centro do Estado de Santa Catarina.

Vestimos nossas roupas e nos pusemos a caminho. Devido ao atrase tivemos que pernoitar em Araranguá, cidade litorânea do estado de Santa Catarina, onde tivemos a satisfação de conhecer o culto e inteligente missionário, Frei José M. Carneiro de Lima, que nos proporcionou momentos de prazer, com uma prosa muito interessante. Antes, porém, de atingirmos essa cidade, o comandante, Dr. Ciro, ao defrontar-se com o único automóvel que vimos naquele centro, derrapou e aterrissou logo após uma curva, obstruindo, ele, a maquina e o automóvel, toda a estrada, provocando assim, minutos após a aterrisagem de Aires. Resultado, o pescoço do Dr. Ciro declarou greve em favor da imobilidade e o braço esquerdo de Aires resolveu entrar em férias parciais, tendo a “dor” aproveitado o ensejo para viajar gratuitamente montada no pescoço do Dr. Ciro, até as águas do Pacífico.

Passamos a noite em um hotel de Aranganguá, e pela madrugada rumamos para a praia do mesmo nome que liga essa cidade à cidade de Torres, já no estado do Rio Grande do Sul, muito conhecida como cidade balneária dos gaúchos. É bastante pitoresca, dada a sua topografia, situada frente ao mar e sobre rochas escarpadas de mais de 100 metros de altura.

Fotos apanhadas na praia de Aranganguá, Torres. Em baixo uma barcaça desembarque norte-americana em completo abandono, visitada pelos três (sic: quatro) bandeirantes.

Almoçamos e seguimos em a Gravataí, ainda pela praia, margeando o mar por uns 100 quilômetros. Em Gravataí, começamos a percorrer estradas, sendo alguns trechos asfaltados. No macadame podíamos desenvolver velocidades superiores a 100 quilômetros horários e devido à velocidade, quase sempre 130 quilômetros, nos distanciamos mais um do outro, quase 1000 metros. O comandante Dr. Ciro, já porque não estava gostando da companheira (a dor no pescoço) , já porque devia manter, consolidar e prestigiar o seu título de “Rei dos Tombos”, praticou nova e sensacional aterrisagem, cheirando de bem perto a mãe terra gaúcha. Em seguida, com a pressa que tinha para ocultar dos companheiros o espetacular tombo, montou na maquina e seguiu na direção em que ela estava virada, ou seja, na direção a São Paulo! Quando perguntado porque voltava, respondeu ele que não estava voltando, mas seguindo para o… Chile.

O território do Rio Grande do Sul  é muito bonito e suas campinas e banhados são de uma beleza típica; nota-se boa organização nas fazendas de criar com seus animais saudáveis e de raças variadas.

Aproximamo-nos a cidade de Porto Alegre. Aí devíamos pernoitar apenas, e o que aconteceu depois modificou nossos planos. Eram mais ou menos 7 horas da noite quando chegamos ao Hotel São Luís, onde fomos muito bem recebidos. No próximo número, falaremos dêsse nobre e atencioso povo gaúcho, de seu Governo e de suas coisas, que nos encantaram muito. Por ali passamos deixando um pedaço de nossos corações e trazendo conosco, vivo e palpitante, o orgulho justo e legítimo de termos como irmão gente tão amiga e sincera como são os gaúchos.

 

 

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Uma Viagem de Motocicleta ATRAVÉS DOS ANDES – parte 2 https://d87.281.myftpupload.com/pt/uma-viagem-de-motocicleta-atraves-dos-andes-parte-2/ https://d87.281.myftpupload.com/pt/uma-viagem-de-motocicleta-atraves-dos-andes-parte-2/#respond Wed, 30 Aug 2017 13:00:19 +0000 https://motostory.com.br/?p=1877 Nota do Editor de Motostory: As continuações da reportagem sobre “Os destemidos Bandeirantes” originalmente publicadas em 1950, nas edições 6, 7 e 8 da revista Motociclismo, respectivamente março / abril, maio / junho e julho / agosto, foram gentilmente cedidas pela família Edgard Soares e seu maravilho acervo, emprestado ao Motostory para o desenvolvimento de nosso trabalho. Aqui, a segunda parte da reportagem.

 

“Em Curitiba visitamos o digníssimo Dr. Guataçara  Borba Carneiro, Governador Substituto, a quem entregamos uma mensagem do nosso estimado Governador, o grande democrata brasileiro Dr. Ademar de Barros.

Mantivemos com o ilustre Governador do maravilhoso Estado do Paraná uma palestra muito animada e cordial, tendo ele consignado em nosso “diário” as seguintes impressões:

“É-me grato registrar a visita, ao Paraná, dos valorosos patrícios Ayres Nogueira, Dr. Bernardo Ciambelli, Dr. Ciro P. Oliveira e José Lamoglia Netto, modernos bandeirantes que nos trazem o abraço fraternal do nobre povo paulista. CURITIBA, 24-1-1949. Guataçara Borba Carneiro (Gov. Substituto)”

 

No artigo anterior, quando falamos sobre assuntos referentes à nossa primeira etapa, deixei claro que algo muito importante movimentava as nossas reuniões que se verificavam após as refeições no hotel, em Curitiba. Neste artigo, vamos falar sobre o assunto que tanto agitou os nossos temperamentos latinos, pondo em suspenso as diversas regras sociais e humanas. Devido aos acidentes ocorridos na primeira etapa, surgiu a seguinte pergunta: EM CASO DE MORTE POR ACIDENTE, OU MESMO DEVIDO A OUTRAS CAUSAS, em que fosse envolvido qualquer dos membros da CARAVANA, a viagem DEVIA OU NÃO CONTINUAR? Não me recordo de qual o autor da pergunta, muito oportuna e lógica, sei apenas que o problema nos pareceu grave e a sua solução parecia urgente, uma vez que íamos enveredar por estradas desconhecidas e bastante acidentadas, com trafego muito reduzido , longe portanto de locais com assistência imediata e pobre em socorros urgentes. Sabíamos, por isso, o  risco a que nos estávamos expondo, e , assim, todas as medidas deveriam ser tomadas com minúcias de detalhes, a fim de não ser prejudicado o nosso principal objetivo: Santiago do Chile. Promovemos, como aliás fazíamos em todos os assuntos que envolvessem a segurança de um ou de todos, uma “VOTAÇÃO” em que cada um tinha o direito de defender o seu voto, com a exposição que julgasse conveniente, pelo tempo contado de 10 minutos, sem interrupção de “apartes”.

Foto publicada na reportagem Através dos Andes da Revista Motociclismo número 6 de janeiro / fevereiro de 1950 – a legenda diz: “Ayres Nogueira aponta o rumo a ser seguido.”

 

Na primeira “votação” a discussão se prolongou pelo espeço de 3 horas, sem que ficasse decidida a questão, pois que no final apuramos 2 votos a 2.

Decidimos que, enquanto se esperava a roda que, seria enviada de São Paulo por via aérea, estudaríamos o assunto com mais cuidado, sendo como era de grande importância. Eu, pessoalmente votei contra a discussão do “caso”, visto achar que, sendo a nossa viagem puramente esportiva, sem objetivos de maior importância, não comportaria medidas tão drásticas e violentas como a de remeter um companheiro morto a São Paulo e prosseguir viagem que provavelmente perderia todo o encanto, após acontecimento tão desagradável. No dia seguinte porém, o assunto voltou a ser ventilado e foi aprovado por 3 votos a 1 o seguinte:

  • Em caso de morte o cadáver seria remetido por via aérea, para a respectiva família, com um acompanhante que nomearíamos e com as homenagens da “CARAVANA”; o mesmo seria feito em caso de acidente grave que impossibilitasse o acidentado de dirigir a motocicleta por espaço superior a dois dias.

 

Nesta mesma noite, às 8 horas, recebemos a tão encantada roda, fomos à oficina e lá não encontramos o proprietário: assim mesmo, como a oficina estava aberta com um garoto a tomar conta, resolvemos nós mesmos colocar a roda. Às 10 horas estavam todas as motocicletas prontas para a nova etapa, que deveria ser iniciada no dia seguinte, pela madrugada.

Anúncio do então importador da Triumph para o Brasil, Thornycroft Mecânica e Importadora, Rua pedroso, 220 – Fone 7-5866 – Caixa Postal 2960 – São Paulo, foi publicado na Revista Motociclismo número 6 de janeiro / fevereiro de 1950 em apoio à viagem feita com as motocicletas da marca inglesa.

 

No dia 26 de outubro, levantamos as 5 horas da manhã. Chovia a cântaros (falta de sorte) pois nos dois dias que ficamos em Curitiba, o tempo estava firme. Às 5 ½ partíamos debaixo de uma chuva torrencial e não víamos possibilidade de melhorar o tempo. Rumamos para o próximo lugarejo (Santo Antonio). Verificaram-se algumas derrapagens se que houvessem propriamente “aterrizagens”, considerando-se que as velocidades tinham que ser inferiores a 60 k.p.h. A lama e o estado precário da estrada eram desanimadores. Protegidos com as capas de material plástico, tínhamos um conforto relativo, na parte superior do corpo; as pernas, embora protegidas pelas botas, estavam em situação bem desagradável. Contudo, a viagem prosseguia com velocidade reduzida, porém constante, sem as “paradas” desnecessárias; e, assim, depois de 3 horas de viagem atingimos a Serra das Minas, ainda no Estado do Paraná. Neste trecho, além da chuva que continuava a cair, tínhamos como presente dos céus, a neblina paulistana; a lama era tanta, que a parte inferior da moto chegava a arrastá-la. As derrapagens deveriam ser evitadas ao máximo, pois que a estrada é estreita e os precipícios são profundos… Finalmente vencemos esta Serra, que nos parecia interminável; a chuva continuava a cair impiedosamente, e nossos estômagos começavam a reclamar combustível e os nossos nervos pediam pausa àquela tensão nervosa que ataca o motociclista que anda sobre terreno molhado e sobretudo barrento. Na divisa dos estados do Paraná e Santa Catarina, paramos numa venda onde tomamos um suculento café completo acompanha de “chouriço catarinense”, afamado em todo o Brasil. Seriam 10 horas da manhã, por isso demos aos nossos estômagos “um pouquinho do tanto que eles queriam”, o bastante para recomposição das forças. Aos nossos nervos demos um descanso de 20 minutos, após o qie montamos novamente com destino ao litoral catarinense, ou seja, a cidade de ITAJAÍ. A chuva continuava, menos pesada, porem a estrada primária e estreita dava-nos sustos constantes.

 

Nas proximidades da alegre e progressista cidade de Joinvile, a chuva desapareceu; entretanto, o sol atendia outros assuntos… em outro mundo. Entramos em Joinvile, paramos em um posto de gasolina onde fomos imediatamente cercados por Joinvilenses, que nos faziam centenas de perguntas. Ficamos encantados com a educação social e esportiva daquela gente. Moças e rapazes, em número incrível, senhoras e senhores idosos utilizavam-se de motocicletas e especialmente bicicletas, como meio de locomoção e esporte. Gente muito hospitaleira, fomos recebidos pelo Sr. Oswaldo Pinheiro, presidente do Moto-Clube local, que nos proporcionou atenções desvanecedoras; os jornais locais publicaram no dia seguinte a nossa passagem pela cidade, em termos muito elogiosos conforme recortes que posteriormente nos foram enviados por gentileza do Sr. Oswaldo Pinheiro. Infelizmente não pudemos conviver com aquela gente tão boa por mais de meia hora, pois tínhamos pressa em atingir, ainda naquele dia, a capital do estado (Florianópolis).

 

Seguimos imediatamente para ITAJAÍ, cidade litorânea, onde fizemos uma refeição mais completa. Descansamos 30 minutos e rumamos diretamente para Florianópolis. Às 7 horas da noite, a 12 quilômetros do final da nossa segunda etapa, a câmara de ar da motocicleta do dr. Bernardo Ciambelli, que estava sendo pilotada por Ayres Nogueira, furou devido a um prego; felizmente era a roda da frente. Para trocar a câmara perdemos 30 minutos. Chegamos a Florianópolis as 8 da noite, nos instalamo-nos um hotel e, depois de um banho duplo, procuramos o berço… o cansaço não era grande, os músculos já se tinham habituado com os esforços que exigimos na primeira etapa.

Foto publicada na reportagem Através dos Andes da Revista Motociclismo número 6 de janeiro / fevereiro de 1950 – a legenda diz: “nossos modernos ciganos encontram-se com seus verdadeiros confrades.”

Pouco adiante de ITAJAÍ, colhemos duas fotografias de um autêntico grupo de ciganos, que ali estavam à margem da estrada, para ler ou descrever a sorte dos transeuntes incautos. Quando eles viram a aproximação das motocicletas roncando como quadrimotores, supuseram que tratava-se da polícia, ou talvez da bomba atômica. Paramos e, com dificuldade, conseguimos fazer aquela gente sair do mato para uma fotografia. O interior do Estado de Santa Catarina, sobretudo o litoral, é de uma beleza indescritível. Margeamos o litoral por muito tempo: o mar ali é contido por uma linha rochosa contínua e impressionante, cuja altura chega a atingir até 100 metros a prumo.”

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