Colunistas – Motostory Brasil https://motostory.com.br A História da Motocicleta no Brasil Fri, 31 Mar 2017 12:24:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.4.3 https://motostory.com.br/wp-content/uploads/2016/09/cropped-MOTOSTORY_LOGO_OLDIE2_MS2-32x32.jpg Colunistas – Motostory Brasil https://motostory.com.br 32 32 O Super Homem e a GPZ https://motostory.com.br/pt/o-super-homem-e-a-gpz/ https://motostory.com.br/pt/o-super-homem-e-a-gpz/#respond Fri, 31 Mar 2017 12:24:00 +0000 https://motostory.com.br/?p=1462 Texto: (brilhante) de Gabriel Marazzi, o Clark Kent do jornalismo especializado

 

O ano era 1982. Eu havia acabado de me formar em engenharia e dava início à minha dupla jornada de trabalho, acumulando as funções de jornalista, que havia começado em 1976, com o trabalho da minha nova profissão. Alguns amigos brincavam dizendo que eu tinha vida dupla, como os super heróis ou os agentes secretos de filmes, mas isso era meio exagero. O fato é que isso dura até os dias de hoje.

 

Meu primeiro emprego de verdade como engenheiro, sem contar alguns estágios e uma primeira experiência de apenas um mês, foi na construtora do Chiquinho, um empresário da noite que também era engenheiro. Outro personagem de vida dupla, que mais tarde se tornaria meu amigo. Certa vez ele me contou o porquê de ter escolhido o meu currículo, entre centenas de outros (estávamos atravessando a pior crise do setor, os engenheiros que se formavam iam, em peso, trabalhar em bancos): Chiquinho havia feito o primário e o ginásio no Liceu Coração de Jesus, tradicional colégio salesiano no bairro paulistano do Bom Retiro. Assim como eu.

 

Fiquei algum tempo como Clark Kent, escondendo o alter ego de Super Homem, para que meu novo chefe não me mandasse embora. Sim, testar motocicletas, para um jovem como eu, naquela época, poderia ser comparado a voar por aí de colant azul e capa vermelha. E com a cueca pra fora da calça.

 

Enquanto isso, do outro lado da cidade, o setor de motocicletas nacionais ainda estava começando e não tínhamos nada mais empolgante do que a Honda CB 400 para testar na revista Duas Rodas. As revistas gringas e os folhetos de motocicletas estrangeiras que chegavam na redação nos deixavam ainda mais frustrados com essa realidade. Esse material me fez conhecer, entre outras maravilhas, a novíssima Kawasaki GPz 1100, super motocicleta que inaugurava a era das injeções eletrônicas de gasolina confiáveis.

Foto Gabriel Marazzi – Motor DOHC de 4 cilindros, refrigerado a ar e com radiador de óleo.

Eu faria qualquer coisa para experimentar uma motocicleta dessas, até arrumar outro emprego. Foi o que aconteceu, um dia, no meu ooooooooutro trabalho, Chiquinho, que sempre desfilava com automóveis nacionais recém-lançados (o primeiro Chevrolet Monza hatch que eu vi na rua era dele), chegou no escritório com uma reluzente Kawasaki GPz 1100. Reluzente era apenas forma de expressão, já que a moto esbanjava outra novidade, o cromo preto (essa era a GPz 1100 II, pois a primeira versão, de 1981, ainda tinha os componentes escurecidos pintados com tinta preta, como o motor e os escapamentos).

Foto Gabriel Marazzi – Motor e escapamentos pintados de preto fosco na B1

Como fazer para andar nessa motocicleta? A turma da revista iria pirar (esse termo nem existia, na época). Não poderia simplesmente dizer “chefe, me empresta tua moto pra uma voltinha? Ou quem sabe uma voltona, com direito a sessão de fotos pra uma revista?”. Era hora de revelar minha verdadeira identidade, mostrando a carteirinha de jornalista vinda diretamente do planeta Krypton.

Foto Gabriel Marazzi – Três freios a disco e suspensão traseira com dois amortecedores.

Deu certo. Surpreso, Chiquinho não só gostou da ideia, afinal, a sua motocicleta iria aparecer na revista Duas Rodas, como se tornou meu amigo. E lá fui eu com meu macacão vermelho e branco (só faltou a capa azul) fazer uns cliques com o Mario Bock. Foi publicado no Planeta Diário de abril de 1983.

 

Abertura da avaliação feita para a Revista Duas Rodas de abril de 1983

 

Nesta imagem podemos ver bem as diferenças entre a GPz B1 e a B2

A motocicleta

A grande sacada da nova Kawasaki GPz 1100 era a injeção eletrônica de gasolina, algo impensável para nós, brasileiros, inclusive para automóveis. Diferentemente do que se propagou, essa não foi era a primeira motocicleta a ter injeção eletrônica, já que no ano anterior, em 1980, a Kawasaki produziu as últimas versões da Z1000, modelo de grande sucesso da marca, com exatamente esse sistema analógico de injeção eletrônica, da Bosch.

 

A importância da Z1000 foi enorme, pois foi a sua antecessora, a Z900, que desbancou a Honda CB 750 Four de seu lugar no mais alto pedestal das motocicletas. A Z900, mais conhecida entre nós como “Kawasaki 900”, foi produzida de 1972 a 1976, sendo substituída pela Z1000 em 1977, que durou até 1980, esta última já com injeção. E você já viu essa moto por aí: era a motocicleta pilotada pelo policial australiano Goose, do primeiro filme do Mad Max, uma Kawasaki Z1000 1977.

Foto Ricardo Pupo / Motos Classicas 70 – Para os padrões dos anos 80, a GPz era grande porém de fácil condução.

Bem, voltemos à Kawasaki GPz. A GPz 1100 B1, de 1981, tinha motor e outros componentes pintados de preto fosco e injeção eletrônica analógica. A moto do Chiquinho era a GPz 1100 B2, de 1982, que ganhou muitas melhorias, a começar pela injeção eletrônica digital, que trocou o medidor de fluxo de ar mecânico anterior por sensores eletrônicos, incluindo um sensor de posição do acelerador. A potencia não aumentou muito por causa disso, passou de 108 cv para 109 cv, o que já era muito para a época, mas o funcionamento da injeção ficou mais preciso.

Foto Ricardo Pupo / Motos Classicas 70 – Na avaliação, a GPz foi considerada confortável e ergonômica.

No visual, a GPZ 1100 B2 também evoluiu, em relação à B1. Motor e escapamentos ganharam o moderno tratamento de cromo preto e uma pequena carenagem cobriu o farol e o painel de instrumentos. Este, por sua vez, ficou mais elegante e passou a ter marcador de combustível de cristal liquido, para acompanhar a injeção digital. É que os relógios do painel também mostravam um pouco da nova tecnologia que surgia na época. Na B1, o voltímetro era convencional, analógico, com um ponteiro magnético, enquanto que a B2 tinha um segredinho: um botão no painel transformava o conta-giros em voltímetro.

Foto Gabriel Marazzi – O painel de instrumentos da GPz B1 ainda era analógico

Naqueles tempos as pequenas baterias das motocicletas não eram tão confiáveis, de forma que essas novas motocicletas equipadas com sistemas eletrônicos podiam deixar o usuário “na mão”, caso elas apresentassem um defeito inesperado, por isso o voltímetro era tão importante.

Foto Gabriel Marazzi – Era uma das motocicletas mais bonitas do mundo, em sua época.

Na minha avaliação para a revista Duas Rodas, de abril de 1983, o tom é de um pouco de entusiasmo com a bela GPz 1100, inclusive na descrição de detalhes que hoje são corriqueiros mesmo em motocicletas populares de baixa cilindrada. É que essa Kawa, para aquele momento, realmente era o supra-sumo das motocicletas, mesmo em relação às melhores motocicletas disponíveis no mercado mundial.

 

Trinta e cinco anos depois

 

Aqueles longínquos anos 80 foram cruéis para quem gostava de boas motocicletas. Com as importações proibidas, eram bem poucas as motos que conseguiam entrar no pais, legalmente ou não. Por isso o entusiasmo todas as vezes que tínhamos acesso a uma delas.

Foto Gabriel Marazzi – Pintura com grafismo simplório mas elegante.

Ainda hoje esses modelos dos anos 80 são mais raros, pelo mesmo motivo, mas a atual onda retrô, que também chagou às motos, está fazendo com que algumas dessas raridades perdidas por aí voltem aos olhos do público. É o caso da Kawasaki GPz 1100 B1 de 1981 do colecionador Ricardo Pupo, que nos “emprestou” sua motocicleta para umas fotos. É claro que não foi possível fazer um teste com a moto, por se tratar de um item de 35 anos e também porque o dono estava “de olho”. Mas foi possível relembrar o passado, da época em que tudo era menos tecnológico, porém tudo era mais empolgante. Não cabe aqui uma comparação com as motocicletas atuais, afinal, passaram-se mais de 35 anos, mas ainda dá para sentir, na pilotagem, que se tratava de uma motocicleta muito especial. Compare as fotos feitas com a GPz B1 com as fotos publicadas na revista.

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Gabriel Marazzi é Motostory https://motostory.com.br/pt/gabriel-marazzi-e-motostory/ https://motostory.com.br/pt/gabriel-marazzi-e-motostory/#respond Thu, 03 Nov 2016 16:07:04 +0000 https://motostory.com.br/?p=433 Carlãozinho Coachman: “Conheci o Gabriel Marazzi, ao menos me lembro assim, no inicio dos anos 80, quando comecei a frequentar a redação da Revista Duas Rodas. Josias Silveira e Roberto Araujo comandavam o barco, Isabel Reis (Hoje Motorpress) fazia parte da redação, e Mario Bock fotografava. O Gabriel naquela altura já tinha experiência em testes de moto e eu ainda começando. Naquela edição fiz minha estréia na revista no comparativo entre as Honda XL 250 R original e uma preparada pela revenda Projeto H, onde trabalhava o amigo e piloto José Cohen, com um kit Mugen de 300 cilindradas. Dá pra ver pelas fotos que nos divertimos bastante naquele dia enquanto o Bock fotografava. Hoje, depois de pouco mais de 30 anos de respeito e amizade, tê-lo como colunista Motostory é sinal de que o tempo só fez crescer a amizade, a admiração e o respeito. Obrigado Bié, pela confiança e seja bem vindo. Você também é Motostory.”

Gabriel Marazzi (XL 250) e Carlãozinho Coachman (XL 300) em teste para a edição de Dezembro de 1982 da Revista Duas Rodas (Fotos Mario Bock - Reprodução Duas Rodas / Motostory)
Gabriel Marazzi (XL 250) e Carlãozinho Coachman (XL 300) em teste para a edição de Dezembro de 1982 da Revista Duas Rodas (Fotos Mario Bock – Reprodução Duas Rodas / Motostory)

Gabriel, por Gabriel Marazzi: Gabriel cresceu ligado aos motores. Primeiro os automóveis, desde pequeno já “testava” no quintal de casa os carros nacionais que seu pai Expedito trazia para teste na revista Quatro Rodas.

Foto Acervo Marazzi
Uma rara Honda Scrambler 350. Foto Acervo Marazzi

Expedito não. Sua ligação com as máquinas e tudo que se move a gasolina devia estar ligado aos genes. Rebelde, aos 15 anos se inscreveu escondido em uma corrida em Interlagos e, de tão bem que se saiu, seu pai ouviu suas façanhas no rádio e lhe tirou o seu querido MG. Ele não teve a sorte de ter tido um pai como o de Gabriel, mas fez a sua própria sorte.

Foto Acervo Marazzi
Eu e minha Honda CB 750 Four 1974 sendo restaurada. Foto Acervo Marazzi

Seguindo os passos do pai, que foi engenheiro, jornalista, piloto, instrutor de pilotagem de competição e muitas outras coisas, Gabriel conheceu as motocicletas aos 8 anos de idade, na época da invasão mundial das marcas japonesas.

Foto Acervo Marazzi
Gabriel e uma Triumph Tiger de 1947. Foto Acervo Marazzi

Teve a sua primeira aos 11 e virou piloto aos 14. Aí não parou mais, entrou para o jornalismo especializado em 1976, na revista Auto Esporte, sempre com motos, passando pelas revistas Duas Rodas, Motociclismo Magazine e MotoMax. Atualmente tem uma coluna sobre motocicletas no iG, organiza encontros de motocicletas clássicas no Páteo do Marazzi e mantém uma oficina de restauração e customização de modelos antigos.

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